terça-feira, 29 de julho de 2008

Simplesmente "A Banda"


Um grupo que se intitula apenas de "a banda" chama a atenção logo de cara. Com um nome simples e, ao mesmo tempo pretensioso - afinal se chamar de "a banda" pode soar por demais arrogante - The Band era um quinteto no qual quatro de seus integrantes eram originários do Canadá e um americano, que marcou o mundo da música nas décadas de 60 e 70. Seu primeiro disco, “Music from Big Pink”, chamou a atenção por vários motivos: num ano - 1968 - em que os jovens usavam cada vez mais roupas psicodélicas e colocavam a guitarra em primeiro plano, esses cinco homens se vestiam com roupas do início do Século XX e apostavam em arranjos tão sofisticados e delicados que pareciam uma ofensa. Mas a Band já era muito calejada. Juntos desde 1961, quando ainda eram conhecidos como The Hawks, o grupo já tinha uma longa estrada como grupo de apoio de um verdadeiro mito - Bob Dylan. Junto dele, viveram alguns dos mais belos momentos da história e gravaram discos antológicos. Dylan não participou de “Music from Big Pink” - ao menos oficialmente - mas deixou sua marca em algumas parcerias nas composições e na bela capa. De quebra, esse disco é considerado - atenção, fãs de listas!!! - uma das 10 mais belas estréias do rock. Uma coisa muito, muito fina. E se você ficou curioso ou achando que isso tudo muito pretensioso, bem... espere até ouvir The Band. Afinal, eles são A BANDA, certo?

Muito antes desses cinco cavalheiros mostrarem toda sua classe e capacidade em sua lendária carreira, é preciso voltar ao passado de Robbie Robertson, Rick Danko, Richard Manuel, Garth Hudson e Levon Helm, quando em 1958 nascia The Hawks.O The Hawks era, na verdade, uma banda de apoio para o cantor Ronnie Hawkins, um cantor de rockabilly que começava a ficar famoso, mas ainda não tinha alcançado um grande sucesso. Em 1958, Ronnie contratou um jovem talento chamado Levon Helm, nascido em 26 de maio de 1940, em Marvell, Arkansas. Apesar da pouca idade - 18 anos - Levon já tinha passado por algumas bandas locais e tocava guitarra, baixo acústico e bateria. E foi como baterista que entrou para a banda de Hawkins.

Mas Ronnie estava insatisfeito com sua carreira. Ele percebeu que se ficasse no sul dos Estados Unidos seria apenas mais um a cantar rockabilly. Foi então que o guitarrista dos Hawks, Jimmy Ray "Luke" Paulman entrou em contato com Conway Twitty, que fazia vários shows bem mais ao norte, precisamente no Canadá. Twitty tinha um homem forte lá, Coronel Harold Kudlets, que conseguia apresentações por todo país e até em algumas cidades do norte dos Estados Unidos, como Detroit e Buffalo. E Ronnie Hawkins and the Hawks perceberam que lá poderiam tornar-se algo grande. Assim, mudaram para Toronto, onde realmente eram considerados a grande sensação com seu rockabilly energético.Em 1959, Ronnie Hawkins lança seu primeiro disco que levava apenas seu nome e havia gravado em abril. Com 12 músicas, o disco marcou a estréia de Levon Helm na banda. Além dos dois, Jimmy "Left" Evans tocou baixo; Jeannie Grennie fez backing vocals; Willard "Pop" Jones tocou piano e Jimmy Ray "Luke" Paulman, tocou todas as guitarras. O produtor foi Joe Reisman.Com um disco lançado, aos poucos, o Hawks foi sofrendo mudanças em sua formação. Após Helm, outro futuro membro do The Band a entrar no grupo foi o guitarrista Robbie Robertson. Nascido no dia 5 de julho de 1943, em Toronto, Robbie era ainda menor de idade - 17 anos -, quando começou a tocar com Ronnie. E assim como Levon, Robbie já havia tido sua experiência no meio musical, integrando bandas como Robbie and the Robots, Thumper and the Trambones e Little Ceasar and the Consuls. Inicialmente assumiu o baixo e foi apadrinhado pelo então guitarrista Fred Carter Jr.

Em 1960, Ronnie Hawkins lançaria outro disco, “Mr. Dynamo”. Levon Helm começava a ganhar destaque escrevendo quatro canções - sendo uma delas sozinho: "Hay Ride", "Baby Jean" e "Southern Love" - essas três em parceria como Roonie e com Magill. Sua composição própria era "You Cheated (You Lied)", que chegou ao 12º lugar na parada dos Estados Unidos. Nesse disco Robbie Robertson já apareceria pela primeira vez como compositor. Robbie dividiu com Magill e Hawkins a autoria de "Hey Boba Lou" e "Someone Like You", embora não conste nos créditos como músico, pois ainda não havia sido nomeado um membro oficial dos Hawks. Nesse disco o baixo ainda era de Jimmy "Lefty" Evans, e Ronnie havia adicionado Fred Carter Jr. como segundo guitarrista.


No final de 1960, entraria o terceiro futuro membro da The Band, Rick Danko. Nascido em 28 de dezembro de 1943, em Simcoe, Rick tocava em grupos locais desde os 12 anos e havia ficando maluco com a energia do grupo após assistir uma apresentação. Rapidamente assumiria a guitarra-rítimica e depois o baixo. Em 1961 é a vez de Richard Manuel entrar no grupo. Nascido em 3 de abril de 1943, em Stratford, Manuel também havia tocado em uma banda local em sua cidade, os barulhentos Rockin' Revols. Richard era um vocalista de origem, mas se descrevia como um "pianista rítmico", capaz de nada muito complicado, mas bom o suficiente para arranjar um espaço nos Hawks.E, finalmente, entrou o último membro que faltava do The Band. E o mais velho de todos. Garth Hudson era um músico de grande habilidade e que entrou para o grupo com 24 anos (nasceu em 2 de agosto de 1937, em London, Canadá. Apesar de ser um grande pianista, Hudson era também hábil com instrumentos de sopros, como o sax tenor e exercia o papel de líder no grupo Paul London and the Kapers e haviam gravado alguns compactos em 45 rotações em Detroit, pelo selo Checkmate. Quando Levon Helm tratou rapidamente de pedir sua contratação pela sua versatilidade: "ninguém tocava piano e instrumentos de sopros como Garth. Quando Ronnie finalmente o trouxe para junto de nós, começamos, de fato, a soar como um grupo profissional.”

Mas a única maneira de manter Garth na banda era o contratando e pagando por isso, já que sua família não aprovava que Garth vivesse com uma banda de rock and roll. A saída foi contratá-lo como professor de música para seu grupo e membro dos Hawks. Ronnie já atravessava um período de baixa em sua carreira, apelando de todas as maneiras para conseguir algum sucesso. De 1959 a 1963 lançou alguns álbuns e compactos, sempre com Helm na bateria, até todos eles serem demitidos por Ronnie em 1964.No mesmo ano, eles começam a tocar com o nome de Levon Helm Sextets e conseguiram mais dinheiro do que haviam tido com Ronnie. Além dos cinco integrantes do Band, constavam o cantor Bruce Bruno e o saxofonista Jerry Penfound. Em seguida eram Levon and the Hawks e estavam tocando pelo Missouri, Arkansas, Oklahoma e Texas, nas fraternidades locais, festas de escolas, além de vários shows pelo Canadá.

Nesse período gravaram o compacto; "Leave Me Alone" e "uh-Uh-Uh" para o selo Ware, de Nova York, em 1964, com o nome de Canadian Squires. Em 1965 gravaram "The Stones I Throw" e "He Don't Love You (And He'll Break Your Heart)", para a Atco, em 1965 e os lançaram como Levon and the Hawks. Nesses discos, tanto Bruce como Jerry já estavam fora do grupo.As quatro canções marcavam algumas inovações: todas eram escritas por Robbie Robertson, que começava a mostrar um grande talento como compositor e o som estava se aproximando da música negra. Robbie conta que estava muito influenciado pelos Staple Singers: "quando escrevi "The Stones I Throw' eu estava tremendamente influenciado pelos Staples Singers. Eu considero Pops Staples um dos melhores cantores que já existiram. Ele parece um trem quando canta e tem uma qualidade única, de poder sussurrar, que me deixava maluco. Era uma canção fora do nosso contexto quando a gravamos e só fazia sentindo quando eu falava no grupo que havia me inspirado.”

A virada na carreira

Em 1965, no entanto, o grupo recebeu um convite que iria mudar radicalmente sua vida: através de uma secretária de Toronto chamada Mary Martin, que trabalhava para o empresário Albert Grossman, eles foram sugeridos para acompanhar Bob Dylan em sua entrada no rock elétrico, quando esse deixou suas composições mais folks e abraçou a guitarra elétrica. Mas Dylan não chamou todos os membros do Hawks para tocar com ele, de início. Primeiro, convidou Robbie Robertson para dois shows: um em Forest Hills, em Nova York e depois em Los Angeles, no Hollywood Bowl. Robbie confessa que não gostou nem um pouco do som que o baterista de Dylan tirava e sugeriu o nome de Levon. Dylan aceitou a sugestão e junto com o pianista Al Kooper e o baixista Harvey Brooks fizeram as duas primeiras apresentações de Dylan em formato elétrico depois da famosa e lendária vaia que tomou no Newport Folk Festival, quando tocou acompanhado de Al Kooper e da Paul Butterfield Blues Band.


Dylan gostou tanto de Robbie e de Levon que os convidou para integrar sua banda que faria vários shows pela América e pela Europa. Os dois argumentaram que isso seria impossível sem os demais integrantes do Hawks. A saída foi realizar alguns ensaios em setembro de 1965, em Toronto, para em seguida, saírem pelo mundo.Os Hawks acabaram se mudando para Nova York, local de residência de Bob Dylan e tiveram um começo difícil, já que Dylan, em suas apresentações, era sistematicamente vaiado por seus antigos fãs, que o acusavam de ter se vendido e abandonado o purismo folk para fazer sucesso. E as vaias eram tão intensas, que Levon Helm, após alguns shows, não suportou mais a tensão e desistiu. "Levon dizia que não queria mais aquilo, que não conseguia mais sentir prazer. Eu disse que ainda descobriríamos nosso som próprio, mas que isso levaria algum tempo, e que, enquanto isso, iríamos tocando e ganhando dinheiro", disse Robbie, que não convenceu, no entanto, seu colega a voltar ao grupo.

Após a excursão, Dylan resolveu se refugiar na cidade de Woodstock para começar a trabalhar em um documentário da viagem à Europa. Rick Danko e Richard Manuel começaram a viajar regularmente à cidade para auxiliar no documentário. E durante essas viagens, Danko achou uma casa estranha, que ficava em um lugar silencioso. A casa era conhecida como Big Pink e acabaria sendo o lar do grupo e, até de Dylan, por um bom tempo. Richard Manuel, Rick Danko e Garth Hudson mudaram-se imediatamente, enquanto Robbie mudou-se para a vizinhança. O local era como a realização de um sonho: ampla, longe da mídia e do público, com muito espaço para ensaios.Ali, Dylan e os quatro músicos remanescentes do Hawks trabalhavam febrilmente, compondo, ensaiando e gravando no porão da casa em um gravador de dois canais. Anos depois, essas gravações, de 1967, sairiam em forma de um antológico disco duplo, em 1975: The Basement Tapes.

A convivência com Dylan faria a banda melhorar em vários aspectos, principalmente nas letras. Robbie conta que no começo não dava muita importância para o aspecto poético de suas canções. "Mas eu tinhas minhas influências - rock and roll, country e blues e era tremendamente influenciado por cantores como Curtis Mayfield e tocava as músicas deles para Bob e dizia 'ouça a voz, o clima, é isso que devemos fazer'. Todo aquele período foi extremamente rico para nós. Ficávamos horas e horas falando de nossas influências."Aos poucos, o som do grupo ia mudando, deixando o rock mais cru dos tempos com Ronnie Hawkins e tornando-se mais elaborado.

"Enquanto eu toquei com Ronnie e com Dylan, eu tocava guitarra de maneira bem alta, raivosa e quando comecei com Ronnie não havia ninguém que soasse assim. Havia apenas Roy Buchanan e eu. Eu era um soldado da guitarra. Quando eu comecei a tocar guitarra era como uma vingança, tocava com raiva. Eu treinava diariamente, cada vez mais e mais e ninguém nesse mundo treinou mais do que eu treinei naqueles dias. Eu era jovem e com a atitude correta. Minha guitarra soava como uma ejaculação precoce. Aos 20 e poucos anos eu tocava com Dylan centenas de vezes os mesmos solos e queria morrer por causa disso. Por isso, quando resolvemos encontrar nosso som, eu queria algo completamente novo. Então pensei que quando começássemos o nosso disco, não iria fazer nenhum solo de guitarra no disco inteiro. Iria tocar apenas riffs. Também queria encontrar um som único para a bateria, um som especial para o piano. Eu não queria vocais gritados, queria vozes sensíveis em que você pudesse ouvir a respiração e elas entrando. E esse tipo de vocalização demora a ser encontrando. Eu ouvia nos discos da época uma voz anulando a outra e queria que cada uma entrasse devagar, que provocasse uma reação como os Staples Singers. Mas, por causa do fato de sermos todos homens, isso teria um efeito diferente. Todas essas idéias vinham à minha mente.”

E para montar todo esse quebra-cabeça, onde ninguém dentro do grupo era mais importante do que o outro, faltava um componente essencial: Levon Helm.O grupo - já rebatizado como The Band - já tinha algumas sessões em estúdios agendadas através de Albert Grossman. Então, Danko ligou para Levon chamando-o para integrar novamente a Band. "Disse a ele que havia algumas centenas de milhares de dólares nos esperando e perguntei se ele não queria compartilhar todo esse dinheiro conosco. Ele respondeu que estaria no próximo vôo", lembra Danko.Mas antes de Levon voltar à The Band, o grupo tinha marcado uma sessão a fim de gravarem duas canções, que foram produzidas por Grossman. As sessões foram um fracasso e Robbie concluiu que eles não soavam nada com aquilo que ele imaginara.Com o grupo insatifeito com a produção de Grossman, resolveram procurar um outro produtor e foram atrás de John Simon. Simon lembra que a primeira vez que viu (e ouviu) a The Band estava ocupado trabalhando com Peter Yarrow (do trio folk Peter, Paul & Mary) fazendo uma trilha sonora de um filme chamado You Are What You Eat, na casa de Howard Alk. "Começamos a ouvir um som das ruas e quando abrimos a janela vi quatro caras vestidos com aquelas roupas totalmente estranhas, com instrumentos malucos cantando parabéns, pois era aniversário de Howard." Após alguns encontros, já com Levon, resolveram trabalhar.

Assim, no dia 10 de janeiro de 1968, todos foram para Nova York para os estúdios da A&R e gravaram algumas músicas: "Tears of Rage", "Chest Fever", "We Can Talk", "This Wheel's On Fire" e "The Weight".Simon disse que o estúdio tinha uma acústica maravilhosa e que gravaram em quatro canais: dois deles para gravações dos instrumentos "ao vivo" - incluindo vocais - outro canal para os metais e o quarto para voz e percussão.Robbie estava particularmente interessado em encontrar um som para a bateria e, entre outras coisas, sugeriu colocar um pedal de wah-wah na pele da bateria para dar um som poderoso, como de um trovão. A idéia acabou gerando o que tanto Robbie desejava - um som único, particular e que seria uma das marcas da The Band.Enquanto gravavam, Grossman resolveu arranjar um melhor contrato para os rapazes e sugeriu que eles se mudassem para a Capitol Records e voassem para Los Angeles. Grossman afirmou que em Los Angeles eles teriam um estúdio melhor, de oito canais e que o clima de Los Angeles, em janeiro, era mais ameno do que de Nova York. Após aceitarem o argumento, pegaram as cinco canções gravadas em Nova York nos estúdios da A&M e voaram para a Califórnia.

As sessões correram da melhor maneira possível e a Band conseguia finalmente encontrar o som que tanto sonhavam. O grupo resolveu inovar desde o início. Foi idéia de Robbie abrir o disco com a lenta e triste "Tears of Rage", composta por Richard Manuel e Bob Dylan e cantada pelo primeiro. Nunca um grupo de rock havia colocado uma música lenta na abertura do disco. A idéia de Robbie era fazer o grupo soar de maneira tão original desde a primeira faixa. A segunda canção seria "To Kingdon Come", uma das raríssimas vezes em que o guitarrista assumiu os vocais."Eu estava influenciado ao mesmo tempo por Luís Buñuel (diretor de filmes espanhol), Akira Kurosawa (diretor japonês) e por John Ford. Eu estava sedento por cultura pois não ia à escola desde meus 16 anos e comecei a ler e ver esses tipos de filmes. Acabei me aprofundando dentro dos mitos europeus, nórdicos, etc.."Mas, entre tantas canções, uma delas se destacou e virou um marco na vida do grupo: "The Weight". Inspirada no diretor espanhol, Robbie conta um pouco sobre como a escreveu: "Buñuel escreveu muito sobre a impossibilidade da santidade, sobre pessoas tentando serem boas. A canção veio daí. Pessoas como ele podem fazer um filme falando dessas conotações religiosas, mas sem passar uma imagem religiosa. Nos filmes dele, há muitas pessoas tentando ser boas e descobrindo que é impossível ser bom.”

"'The Weight' começa com alguém dizendo 'você pode me fazer um favor e dizer alô a uma pessoa? Oh, você está indo para Nazaré, a terra da fábrica das guitarras Martin? Então me faça esse favor quando estiver lá' e o cara vai e uma coisa acaba levando a outra coisa até que ele percebe que não sabe mais o que está acontecendo e que precisa dar um oi para alguém que ele não conhece. Isso é bem Buñuel. Quando eu escrevi a canção quis criar algo como um mito da América. A Nazareth que pensei, era a cidade da Pennsylvania e não Nazareth de onde veio Jesus Cristo. Eu nem sei porque deram esse nome à cidade, mas tentei criar uma história em torno disto."Levon Helm disse que a canção possui alguns do personagens favoritos de todo o grupo: Luke é Jimmy Ray Paulman, dos Hawks; Young Anna Lee é Anna Lee Williams do Turkey Scratch e Crazy Chester é um cara que vinha de Fayetteville todos os sábados vestindo um daqueles cintos em que você coloca espingardas na cintura."Para fechar o disco, escolheram uma composição até então inédita de Bob Dylan, "I Shall Be Released", com um belo tratamento vocal de Manuel, Danko e Helm.

Quando foi lançado em 1968, “Music from Big Pink” não alcançou o sucesso esperado. Primeiro, porque o nome do grupo confundia as pessoas. Depois porque eles teimavam em usar nas fotos do álbum roupas soturnas e conservadoras demais para o padrão da época. Para contrastar, a capa do disco era um desenho feito por Bob Dylan. As fotos, que acabaram sendo uma marca registrada do grupo, foram tiradas pelo desconhecido fotógrafo Elliott Landy, que foi escolhido da maneira mais inusitada possível: "eu perguntei quem era o pior fotógrafo de toda Nova York porque queria essa pessoa para nos retratar. Ninguém soube me dar um nome, mas me disseram que havia esse tal de Elliot que trabalhava para uma revista furreca chamada RAT, disparada a pior de todas. Acabamos chamando-o e ele fez um trabalho incrível", afirmou Robbie.Para aumentar o estranhamento, na contra-capa do disco aparece a famosa casa rosa. O disco teve uma carreira modesta nas paradas de sucesso, alcançando apenas a 30ª posição nas paradas e isso porque George Harrison e Eric Clapton se derramarram em elogios ao trabalho. Clapton disse que era seu disco favorito e um dos mais importantes de todos os tempos. Ainda assim, "The Weight" foi apenas o número 63 nas paradas na América e 21 no Reino Unido.


Em agosto de 2000, o disco foi relançado em uma versão remasterizada, com nove faixas a mais incluindo outtakes da primeira gravação com Grossman, como é o caso de "Ferdinand The Imposter", que foi incluída mais pelo valor histórico do que musical.Ironicamente, "The Weight" faria mais sucesso nas vozes de Jackie DeShannon e na de Aretha Franklin (incluindo uma canja de Duane Allman na guitarra), ambas gravadas em 1969 e inferior à original. Isso, contudo, serviu para popularizar ainda mais o disco, tido como um dos grandes lançamentos da história do rock e peça obrigatória para quem quer conhecer a história da música.

Em 1969 a banda apresentava seu novo disco, chamado simplesmente “The Band”, recheado de belíssimas canções, como “Up On Cripple Creek”; “Rag Mama Rag”; “When You Awake” e “The Night They Drove Old Dixie Down”, entre outras. A seguir, em 1970, viria “Stage Fright”, terceiro rebento do quinteto. Talvez o disco mais pessoal da banda, focado em seus demônios internos e na angústia diante do sucesso obtido.


Seguiram-se os álbuns “Cahoots” (1971); “Rock of Ages” (1972), um show memorável em Nova York, o qual, ao final, sem nenhum anúncio ou publicidade, contou com a participação-surpresa do legendário Bob Dylan; “Moondog Matinee” (1973); “Northern Lights – Southern Cross” (1975) e “Islands” (1977).
Em novembro de 1976, a banda reuniu seus amigos para celebrar seu concerto de despedida, no Winterland Ballroom em San Francisco. “The Last Waltz” seria o show de "adeus" da banda, após de 16 anos fazendo turnês. The Band teve a compania de mais de uma dúzia de convidados especiais, incluindo Eric Clapton, Neil Diamond, Bob Dylan, Joni Mitchell, Van Morrison, Ringo Starr, Muddy Waters e Neil Young.
O evento foi filmado pelo cineasta Martin Scorsese e transformado em um documentário, lançado em 1978. O filme destaca performaces do show, cenas gravadas em estúdio e estrevistas com os membros da banda.

O Fim
The Band acabou se tornando uma instituição da música norte-americana e em 1986 os fãs foram devastados pela notícia do suicídio de Richard Manuel, que no dia 4 de março se enforcou em um quarto de motel em Winter Park, na Flórida, numa excursão que marcava a volta da formação original. A Band, ou o que restou dela, seguiu tocando até os anos 90, com vários músicos convidados, sem Manuel e Robertson, que recusou-se a participar do projeto de continuidade, dizendo-se fiel aos ideais do Last Waltz.

Discografia

1964-1965:
Uh-Uh-Uh / Leave Me Alone (compactos de 1964, como The Canadian Squires)
The Stones I Throw / He Don't Love You (compactos de 1965, como Levon and the Hawks)
Go Go Liza Jane / He Don't Love You (relançamentos em 1968, como Levon and the Hawks)
1968-1978:
Music From Big Pink (1968)
The Band (1969)
Stage Fright (1970)
Cahoots (1971)
Rock of Ages (live, 1972)
Moondog Matinee (1973)
Northern Lights - Southern Cross (1975)
Islands (1977)
The Last Waltz (ao vivo/estúdio, 1978)
1993-1998:
Jericho (1993)
High On The Hog (1996)
Jubilation (1998)
Álbuns com Bob Dylan:
Planet Waves (1974)
Before the Flood (1974)
The Basement Tapes (1975)


Fonte principal: Mofo http://www.beatrix.pro.br/mofo/

terça-feira, 15 de julho de 2008

Fã numero 1


Todo grande ídolo tem sua legião de fãs e com Bob Dylan não seria diferente. A maioria nutre pelo artista uma admiração silenciosa, mas alguns extrapolam esta condição e fazem do ídolo uma verdadeira obsessão. É o caso, p. ex., do maluco A. J. Weberman, sobre quem já falamos aqui neste blog, que nos anos 70 atormentou a vida do Dylan, tornando-se um verdadeiro estorvo para ele e sua família, quando se mudaram para Nova York.

Outro que pode ser considerado um ardoroso fã do Bob, por sorte não é um psicopata que vive azucrinando a vida de seu astro favorito, é Joel Gilbert, que fundou uma banda tributo ao ídolo, denominada Highway 61 Revisited, que segundo ele próprio é a única banda no planeta criada em homenagem a Bob Dylan. Gilbert é também cineasta e montou uma empresa chamada Highway 61 Entertainment Production que já produziu alguns filmes abordando a vida do mestre, disponíveis em DVD.

Joel é um sujeito baixinho e um tanto quanto franzino. Tudo bem que de bobo ele não tem nada e capricha bastante no visual para ficar com uma estampa parecida com o Bob. O cara por sua vez também extrapola a relação fã-ídolo e no caso dele, faz disso uma profissão. Nessa brincadeira de sair pelos EUA, em turnê com sua banda tributo, imitando o Dylan e se apresentando em bares e casas de shows e ainda, principalmente, produzindo e dirigindo os DVDs, o homem arrecada uns bons trocados.

Os filmes são bacanas, bem produzidos e trazem algumas histórias e recordações de pessoas que fizeram parte da trajetória do Bob, ao longo de todos estes anos. Embora sejam todos eles “não autorizados” pelo ídolo e portanto sem dispor de material original do artista, não são apenas produtos caça-níqueis, feitos apenas para engordar a conta bancária do seu autor, ainda que também sirvam a esse propósito.



“1966 World Tour – The Home Movies (Through the Câmera of Dylan´s Drummer Mickey Jones)”, de 2003 é uma viagem àquela celebrada turnê de 1966, através dos filmes caseiros do bateirista Jones. O DVD traz algumas entrevistas com Johnny Rivers e Trini Lopez, com quem Jones havia trabalhado e algumas boas imagens daquela turnê do Dylan, pela Europa e Austrália.





“Bob Dylan World Tours 1966-1974 (Through the Câmera of Barry Feinstein)”, de 2005, é outra viagem pelas lendárias turnês de Dylan e The Band, sendo que desta vez, através de fotos e depoimentos do fotógrafo Bary Feinstein, que acompanhou a trupe naquelas ocasiões. Gilbert visitou Woodstock, investigando a vida reclusa do Bob antes do retorno deste à estrada, fazendo inclusive uma parada na famosíssima Big Pink, de onde saíram as não menos famosas “basement tapes”. Gilbert ainda realiza algumas boas entrevistas com o lunático A. J. Webermann e também com o cineasta D. A. Pennebaker, o jornalista Al Aronowitz e o baterista Mickey Jones, que na turnê de 1966, substitui Levon Helm e tocou com a The Band, acompanhando Dylan. Este título tem edição nacional de boa qualidade e é facilmente encontrado em boas lojas do ramo.




O terceiro e último DVD tributo do Joel Gilbert é o melhor deles: “Rolling Thunder and The Gospel Years – Bob Dylan 1975-1981” conta com participações de Scarlet Rivera; Bruce Langhorne; Ramblin´ Jack Elliot e Rob Stoner, traz ainda ótimas entrevistas com os músicos e também com Jacques Levy e Rubin Hurricane Carter.




Pra não ficar só nos DVDs da Highway 61 Entertainment, vamos recomendar um outro, recentemente lançado no Brasil pela gravadora Coqueiro Verde, mais um a abordar os chamados “gospel years” do Bob. Trata-se de “Gotta Serve Somebody – The Gospel Songs of Bob Dylan”. Este documentário foi feito a partir de imagens captadas durante o “making off” do disco “Gotta Serve Somebody”, álbum indicado ao Grammy, que reuniu grandes astros do mundo gospel, interpretando músicas da fase cristã do Dylan. O DVD tem a participação de Aaron Neville; The Fairfield Four; Rance Allen, entre outros, além do próprio Dylan, cantando “When He Returns”, em 1980.